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Editorial
Os chatos e o brasilcentrismo
Se você, leitor, acessa as redes sociais, deve ter se deparado na última semana com alguma postagem sobre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ter lançado uma nova versão nacional do mapa mundi, com o Brasil centralizado. Como vivemos em uma era onde tudo vira BraPel e é preciso correr rapidamente para uma ou outra trincheira, o tema rendeu tweets críticos, outros espirituosos, textão no Facebook, meme no Instagram e aí por aí vai. Alguns viram como um escárnio, outros como patriotismo, uns como politicagem e outros como orgulho. Poucos fizeram uma análise realmente técnica. Infelizmente, vivemos tempos em que debates vazios ganham corpo com muita facilidade.
É importante lembrar que a Terra é redonda, apesar de até isso ser questionado ultimamente. E que os mapas, em geral, são uma versão "esticada" dessa bola que costuma girar por aí em torno do sol (sim, isso também já foi provado). Portanto, não existe centro, tudo depende de um ponto de vista. Os meridianos, os paralelos, os pontos cardeais, enfim, tudo isso é uma convenção coletiva para facilitar o entendimento e a localização.
E é nestas últimas palavras que parece se concentrar o foco da ação do IBGE. É sempre necessário lembrar que o B significa brasileiro e, portanto, o instituto é focado no Brasil. Mapas colocando o País em evidência facilitam o entendimento e as proporções de distâncias, de localização e tudo mais. Motivo, por exemplo, que o mapa mundi que conhecemos é eurocentrista: foi criado por europeus se colocando em evidência para facilitar essa compreensão de caminhos. Além disso, muitos outros países, como Japão, Austrália e Estados Unidos já usaram a cartografia para se colocar no centro, seja para provar algum ponto em uma disputa de poder, seja para facilitar a compreensão de alunos, como é o caso em que argumenta o IBGE.
Em um mundo polarizado, infelizmente tudo é motivo para arrastar às trincheiras e debater um ponto ferrenhamente. Em raros momentos é feita uma análise conjuntural geral de uma situação. As redes sociais felizmente deram voz a muitos mas, infelizmente, alguns desses são os chatos que precisam urgentemente emitir uma opinião, se não o engajamento cai. Nem tudo precisa ser polêmica ou teoria da conspiração.
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